Sei que a pior coisa que se pode dizer pra alguém que está surtando é “calma”, mas, de certa forma, é tudo o que você precisa ouvir, inclusive antes mesmo de surtar e é por isso que vim dizer somente isso com esse texto: Calma. Na verdade eu vou dizer bem mais coisas, como vocês já imaginam, mas todas convergirão pra “Calma”.
Eu não sou lá a pessoa mais naturalmente calma desse mundo, mas eu sempre tento me forçar a ser. Seja com um comportamento (na TPM eu me tranco no quarto e não falo com quase ninguém, com aqueles que eu falo, dou respostas monossilábicas. Assim não tenho motivo pra stress) ou, como será o foco desse texto, me forço a me acalmar com pensamentos.
O primeiro pensamento que uma pessoa surtando ou prestes a surtar deve ter é fazer uma ponderação. O que eu ganharei surtando? Eu ajudo. Rugas, gente te olhando feio, gente chamando a sua atenção, gente dizendo “calma” e te estressando mais ainda, mais rugas, talvez uma dor de cabeça e péssimos resultados com o que você está se estressando porque ninguém consegue fazer nada direito no meio de um surto.
Feito esse levantamento pense: O que eu ganharei mantendo a calma? Também ajudo. A chance de se sair bem com o que está te importunando, já que calmo você vai pensar melhor.
Outro pensamento pra se manter é: ainda tem tempo. Sério, não precisa enlouquecer. Você tem bem mais tempo do que imagina e só duas opções: gastar o que tem enlouquecendo ou aproveitá-lo de alguma maneira (se manter em paz é uma ótima maneira de aproveitar o tempo).
Quando eu estava no ensino médio lembro de quase todos os meus colegas enlouquecidos porque tinham que passar no vestibular, “meu Deus eu preciso ser aprovado”, “meu Deus tenho que estudar loucamente 24hs por dia pra passar”, “ai eu não vou conseguir”, “tenho que estudar mais”, 500 aulas particulares. Enquanto eu:
Meu único pensamento era: “DE BOA”. Mentira, a gente nem usava essa expressão ainda, mas ela resume muito bem meu estado de espírito. Tudo o que eu pensava era: “gente, eu sou tão nova, tenho tanto tempo pela frente. Se não passar esse ano, tenta ano que vem.”.
Resultado: eu passei de primeira pra uma federal concorrida e grande parte do pessoal que estava surtando está fazendo cursinho até hoje.
Entrei na faculdade e odiei o curso, mas eu não tinha muito o que fazer. O único lugar que me vejo é em cima de um palco e eu preciso de um diploma pra conseguir chegar lá. Eu surtei? Eu surtei sim. Chorei dias e dias porque tava odiando tudo, porque estava longe demais do meu sonho e isso aconteceu algumas vezes durante o curso. E em todas elas, só quando me acalmei vi as soluções chegarem.
Talvez seja o mal da nossa geração, mas parece que estamos sempre com pressa pra alguma coisa. E nessa pressa acabamos não apreciando nada do que está ao nosso redor. Sabe aquela história de apreciar a jornada? Ela serve pra grandes sonhos, mas pra pequenos objetivos e tarefas também. A única pressa que a gente tem que ter é pra aprender a aproveitar o que temos agora e nos preocuparmos menos com o que queríamos ter e (ainda) não temos.
Olha, eu me imaginava tendo uma vida completamente diferente da que tenho agora e já me entristeci muito por isso, mas não há nada que eu possa fazer além de curtir a vida que eu tenho hoje. Inclusive, muita coisa maravilhosa aconteceu só porque eu tenho escolhido curtir essa fase. Eu acredito que algum propósito maior tem esse momento que eu estou vivendo e eu só vou entender lá na frente.
Se algo não está do jeito que você quer ou você precisa muito alcançar um objetivo,você precisa parar. Pode ser que se acalmando você vai descobrir tudo o que precisa fazer pra alcançar o seu objetivo. Ou você vai descobrir que não há nada muito prático que possa fazer agora. Aí é só esperar o momento certo de entrar em ação observando o que a vida está te dando agora e aproveitar.
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P.S.: Não estou pregando o conformismo, de forma alguma. Acho que a gente tem que agir o quanto pode pra alcançar nossos sonhos e objetivos, mas minha vivência me leva a crer que temos momentos em que não há muito o que fazer. Como se estivéssemos recolhendo experiências e ganhando energia nova pra voltarmos a agir. Tipo quando a gente fecha um jogo até completar as vidas e poder voltar a jogar.
P.S.: Eu confesso que todas as minhas conquistas que contei – e outras mais que não vêm ao caso - não dependeram só disso. Tem Deus, tem um pouquinho de esforço meu, um montão de esforço dos meus pais. Mas nada teria acontecido se eu não tivesse me acalmado.